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A Viagem

Viajar de comboio é como percorrer uma vida cheia de conquistas, alegrias, bem-estar, esperança, celebrações e, ainda, saber lidar com os obstáculos ou situações mais difíceis que vão surgindo. Se vivermos o tempo suficiente, certamente, vários eventos diferentes teremos de enfrentar. Contudo, é necessário fazer paragens para sonhar, planificar, refletir e continuar o percurso da vida com as ações que desenhámos para uma vivência de consciência individual e coletiva.

Quase sempre que viajo de comboio observo as pessoas a sair e a entrarem, nesta substância que é a magia da vida. Pessoas que, cada uma com a sua história, certamente procuram a felicidade ou uma vida com sentido. O próprio comboio tem vida e move-se através do tempo. Tempo este tão precioso ao tempo da nossa vida, à forma como tomamos decisões e colocamos em prática os nossos valores.

Imagino sempre que forças de assinatura guiarão essas pessoas e como poderão ser mais felizes. Sinceramente, são viagens que podem levar à imaginação, ao sonho e à criação de soluções.  Geralmente, surgem ideias como esta imagem do comboio que apresento e que foi gentil e entusiasticamente desenvolvida para dar resposta ao meu sonho.

Fico sempre muito grata e com uma alegria imensa pelo resultado apresentado, pela sabedoria de quem sabe exprimir as ideias dos outros através de imagens, desenhos, pinturas ou qualquer meio artístico.

Se o nosso coração bate ininterruptamente, na maioria das vezes sem se queixar até ao dia da nossa partida, no caso da nossa vida é o contrário, precisamos de paragens, reflexões para definir propósitos com significado que contribuem não só para a nossa realização pessoal e bem-estar genuíno ou vida plena, mas também para o bem-estar dos outros e do planeta.

Ao longo da vida vamos parando e avançando, ultrapassando obstáculos e circunstâncias de vida, muitas vezes difíceis, mas na grande maioria das vezes transitórias. Ao mesmo tempo que celebramos as nossas conquistas e as dos outros protagonistas.

Escolho, em primeiro lugar, a carruagem da Transcendência, por saber ser uma virtude que reúne forças de carácter pessoais que se conectam com a amplitude do universo e dão sentido à vida. As suas forças são a apreciação da beleza e excelência, gratidão, esperança, humor e espiritualidade.

“Só cada pessoa pode construir para si mesma esse sentido. É algo que vem do seu interior e não precisa de competição”, Allan Wallace. As forças que estão ligadas à transcendência cultivam equilíbrio emocional e proporcionam um bem-estar genuíno, felicidade eudaimónica, termo grego que define um tipo de felicidade duradoura que é para ser cultivada e não perseguida.

A Transcendência, é uma das seis virtudes e vinte e quatro forças de carácter, descritas no “Manual Classificação das Virtudes e Forças de Carácter” da Psicologia Positiva, a sua aplicação foca-se no desenvolvimento humano.

Depois de pesquisa profunda, este manual foi elaborado por Christopher Peterson, Co-auor do manual VIA – The science of Strengths , quando convidado por Martin Seligaman, após ter sido nomeado para assumir a presidência da APA, American Psychological Association, em 1998; e  ainda, por  Mihaly CsiKszentmihaly, investigador na área do Flow. Estes investigadores influenciaram de forma surpreendente o caminho da recente ciência da Psicologia Positiva até aos dias de hoje.

Houve então uma redefinição dos objetivos da Psicologia da época, muito focada na doença e seguida desde a II guerra mundial, para a nova Ciência Psicologia Positiva que engloba três grandes dimensões:

  1. Vida Prazerosa
  2. Vida Envolvida, Flow
  3. Vida Plena

E se cultivássemos a “Apreciação a Beleza e a Gratidão” diariamente? E se todos nós vivêssemos com esperança, Humor e Significado de Vida para um bem comum ou maior? Estaríamos, certamente, a contribuir para uma vida mais plena, quer do ponto de vista do indivíduo, das organizações e das comunidades, assim como a capacitar-nos ou a envolver-nos numa comunicação baseada na não violência e em direção da Paz.

 

Rosa Lima – Felicitadora da Mudança

Imagem – Paula Alvim – Pintora

 

 

Referências bibliográficas

Seligman, M.E.P., Authentic Happiness: Using the New Positive Psychology to Realize Your Potential for Lasting Fulfillment, New York, Free Press, 2002.

Emmons, R., McCullough, M., “Counting Blessings versus burdens: an experimental investigation of gratitude and subjective well-being in daily life”, in Journal of Personality and Social Psychology, 84, 2003, pp. 377-389.

Peterson, Christopher & Seligman, M.E.P., Character Strengths and Virtues. A Handbook and Classification, Washington, D.C.: APA Press and Oxford University Press, 2004.

Lyubomirsky, Sonja, Como ser feliz, Lisboa, Pergaminho, 2011.

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